Por que nada é óbvio, afinal?
- Carlos Eduardo Scheuer
- 14 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Quantas discussões você já presenciou ou até participou simplesmente porque haviam opiniões e visões diferentes sobre um mesmo assunto? Tenho certeza que várias!
Na verdade muito disso (ou quase tudo) poderia ser evitado se as pessoas compreendessem algumas nuances da comunicação - e dos ruídos que podem existir nela. Vou te explicar.
Cada pessoa interpreta a realidade de uma forma diferente - o que, superficialmente, provavelmente não é novidade para você. Cada um de nós possui seus próprios significados sobre o mesmo mundo.
Estes, foram construídos através das experiências carregadas de cargas emocionais acumuladas ao longo da vida.
Vamos aprofundar um pouco: A representação dessa realidade é interna. Tem uma estrutura em termos de imagens, sons e sensações, cujo significado é diferente para cada pessoa.

Usamos inclusive uma metáfora, onde essa visão de mundo seria o "mapa" de cada um a respeito da realidade. Na verdade, esse conceito de mapa foi formalizado por Weick (1920).
Porém, necessariamente, este mapa pode não condizer com a realidade (mapa) de outra pessoa. Na verdade, na grande maioria das vezes, não condiz. Você mesmo certamente é capaz de imaginar a quantidade de interpretações diferentes que podem ser feitas de CADA situação que vivenciamos.
Logo não existe certo ou errado, e nada óbvio. Apenas uma forma diferente de enxergar o mundo para cada pessoa. Ninguém é vilão em sua própria história, e ninguém decide ver o mundo de uma forma que considere errado - o mapa de cada um faz sentido em sua própria cabeça.
Sabe quando você quer ver um local no Google Maps mas o que aparece ali não condiz em detalhes com o território real que tem lá? Isto porque o mapa é apenas uma representação da realidade, em uma forma como foi possível fazê-la, mas sem poder evitar algumas distorções, generalizações e omissões.
Nessa mesma lógica, a representação que temos da realidade é apenas um mapa e não a realidade em si, ou seja, o território.
Lembra das discussões que citamos lá no início? As pessoas não reagem aos acontecimentos externos e sim à sua percepção dos fatos. É interno. Cada uma dessas pessoas está fazendo seu melhor, considerando os recursos do mapa de cada uma delas sobre o mundo, na situação em que se encontram. E com que frequência nos esquecemos disso e agimos como se o mapa de outras pessoas fosse idêntico ao nosso, não agimos?
Seus comportamentos possuem sempre intenções positivas, que talvez façam muito sentido para si e nenhum sentido para outras pessoas.
A vida não é um retrato estático como um mapa, ela pode mudar e apresentar circunstâncias

totalmente novas a cada instante. O que ainda adiciona uma nova variável a esse contexto já complexo: Os mapas de cada pessoa, mesmo que em algo algum dia tenham sido iguais, podem mudar. Isso se chama neuroplasticidade do ponto de vista neurobiológico. Aprendizagem do ponto de vista psicológico. Maturidade, do ponto de vista da performance profissional.
Se ficarmos presos aos modelos que criamos em nossas mentes, nunca conseguiremos dar conta de encarar a realidade, ir em frente e muito menos perceber que há outras pessoas passando pelo mesmo. Na verdade, nossa evolução estará fadada ao fracasso.
Deveríamos usar constantemente nossa criatividade para buscar soluções e desenvolver habilidades que nos ajudem a enfrentar os desafios imprevistos.
Quando você compreende que o mapa e o território são necessariamente diferentes, e quando entende que a forma como desenhou seu mapa ao longo da vida acerca de coisas que para você são óbvias tem uma grande probabilidade de ser diferente do mapa desenhado por quase qualquer outra pessoa no mundo acerca das mesmas coisas, você entende que na verdade, por mais que gostaríamos que fosse, e para mais que para nós algumas coisas sejam... nada é, realmente, óbvio.
E como lidar com tantos mapas diferentes? Não parece algo caótico? Como organizar isso e conseguir que várias pessoas enxerguem um ponto de formas pelo menos parecidas? Como se assegurar disso?
E mais: como lembrar dessas diferenças quando a emoção toma conta, em tempo real, em campo? Como descobrir quais são as diferenças e seu impacto prático?
Bom, isso é o começo da comunicação eficiente. E isso é assunto para um outro artigo. Ou, para quem quer entender isso na prática e desenvolver a habilidade, é assunto para nosso programa de resultados ComunicAÇÃO.